terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Ano Novo, Vida Velha

Esse ano a virada foi um tanto melancólica em lembrança do aniversário do avô do meu marido. Além de ser querido por ser o vovô, os pais do meu marido moraram a vida inteira com ele e a convivência sempre foi muito próxima.  Essa lembrança me fez pensar no meu próprio avô, único que conheci, que não gostava nada de ano novo.  O pessoal de casa fazia piada, mas nada mudava a ideia dele: os anos novos só vem para trazer inflação e dureza!

Mas ele tinha motivo para pensar assim.  Meu avô criou 7 filhos e nesse processo sobreviveu as mais importantes crises inflacionárias que o Brasil e o mundo já viu.  É certo que eu puxei o lado otimista da minha avó, mas existe uma lição importante na frustração do seu Elias, uma pessoa extremamente organizada.  Os primeiros meses do ano eram sempre muito apertados e ele com muita disciplina e trabalho conseguia colocar o orçamento em dia.  E justo quando as coisas acabavam de entrar mais ou menos nos eixos, vinha o ano novo e com ele todas as tabelas atualizadas! 

A verdade é que os recomeços das nossas vidas não acontecem todos no mesmo lugar.  O ano novo de 2016 começa com a Luciana que terminou 2015 diferente da que terminou 2014 (e são 7 kgs mais magra, podem me dar os parabéns).  Se por um lado isso pode ser considerado ruim, eu sigo a linha do meu avô de apreço pelo que construí com a vantagem de ter concentrado os meus esforços em coisas que a inflação não pode fazer desaparecer.  Sim, eu apertei o cinto e vi o milagre da multiplicação no orçamento de 2015, mas conquistamos outras coisas que ninguém pode nos tirar.  

Uma delas recebi de herança através do exemplo deste mesmo avô.  Quando seu Elias se aposentou, viu que as pessoas do condomínio de casas onde ele morava precisavam ir longe para resolver coisas bobas como comprar pão.  Era um condomínio fechado que se estendia em uma ladeira bem íngreme.  Então ele fez da metade da garagem dele uma vendinha, onde tinha esses artigos que as pessoas compram sempre como refrigerantes, ingredientes básicos, biscoitos e os meus preferidos, doces.  Quando eu estava na casa da minha vó, a gente visitava a vendinha do meu avô algumas dezenas de vezes pedindo balas, chiclete, paçoca... 




Claro que meu avô se preocupava com as mercadorias dele.  Eram muitos netos e a gente não parava de pedir nunca.  Tenho certeza que se ele nos desse todas as vezes que pedíamos teria falido.  Mas essas recusas não nos desanimavam, mesmo que ele fizesse cara de bravo, porque a gente sabia que depois ele acabava cedendo.  E em todas nossas idas e vindas o meu avô estava atendendo alguém ou ele estava lendo a Bíblia ao som de alguma música religiosa.

Ao longo dos anos isso sempre me deixou curiosa.  Ele lia o jornal de manhã cedo, antes que eu acordasse.  Da hora que eu acordava até a hora do jornal nacional que ele via todo dia, ele tinha apenas esse mesmo passatempo.  Ele já sabia todas as histórias de cor, por que ele não se cansava?  Como eu sempre gostei de ler, entendia que ficar o dia inteiro em um livro é sonho de consumo.  Mas por que a mesma história toda vez?  

Hoje anos mais tarde, eu mesmo já sei tantas dessas histórias do começo ao fim.  E como o seu Elias, eu não me canso de aprender com elas, descobrir sobre o meu Salvador e aprender lições com cada vida que está registrada nas páginas da Bíblia.  Como Cristo ensinou aos judeus: 

"Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam".
João 5:39

Com seu amor pela palavra de Deus, seu Elias e dona Maria me deram um "tesouro no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam" (Mateus 6:20).  Certamente esse ano eu preciso correr atrás como todo brasileiro, mas graças aos meus verdadeiros amores, essa busca vai ter paz, propósito e consolo.


3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto Luciana, seu avô é o meu herói. Tudo o que sou hoje devo a ele. Um grande beijo!

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