quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um verdadeiro milagre

Eu tenho síndrome do coelho branco, sempre correndo de um lado para o outro atrasada.  E nessa afobação eu acabo deixando muita coisa passar pensando naquilo que eu preciso fazer.  No início de junho, a minha vizinha e amiga da Igreja veio me perguntar se eu já tinha visto uma família que catava lixo na nossa rua.  Ela me contou que estavam sempre lá pai, mãe e filhos em um estado precário de higiene, se alimentando do que encontravam e separando os recicláveis para vender por dinheiro.

Decidi passar a olhar a rua quando saía e não demorou muito eu vi a tal família.  Parei e conversei com eles, perguntando sobre sua experiência de trabalho e como poderia ajudá-los a encontrar um melhor.  Eles me falaram que tinham perdido seus documentos havia algum tempo e não tinham como ser contratados.  Era uma sexta e eles disseram que estariam ali naquele mesmo ponto da rua na segunda-feira.




Acho que eles não acreditaram muito no meu interesse.  Mas eu falei com os membros da minha ala (unidade de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) e na segunda-feira eu tinha bolsas e bolsas de doação para levar.  Tinha comida, roupas, material de higiene.  Quando me viram, sorriram mas logo se encabularam de estar dando biscoitos do lixo para seus filhos comerem na minha frente.  Fui com eles até um vendedor de quentinhas e comprei almoço para a família.  

O menino de 5 anos pulava que nem pipoca quando viu o que eu trouxe e o pai o animava ainda mais: como ele tinha sorte de tomar leite no seu aniversário!  Uma alegria que me atingiu como uma faca ao pensar nas minhas filhas.  Voltei para a minha casa, peguei uma roupa nova que tinha comprado para o meu primo e material de higiene, peguei brinquedos de menino com uma vizinha.  Levei essa pequena surpresa, dei-lhe um abraço apertado e falei para ele que tomasse um belo banho, colocasse aquela roupa novinha e brincasse com seus brinquedos.  

Desde então tenho acompanhado a família.  A cada semana foram muitas mudanças, ainda que sutis.  Me emocionei quando na semana seguinte encontrei o homem que comia do lixo agora manuseando tudo com luvas de borracha.  A cada semana mais limpos, a cada semana mais arrumados.  Conforme a sua aparência foi melhorando, mais pessoas passaram a reparar neles e lhes oferecer ajuda.  Até que hoje, para minha surpresa, encontrei com eles no mesmo horário e não os vi trabalhando na reciclagem.  Eles me avisaram que o pai conseguiu um trabalho!  E que vieram ainda precisando de ajuda porque o salário só vai cair no final do mês!

Esse milagre só aconteceu porque não apenas lhes demos comida.  Durante esse mês, as missionárias da Igreja os visitaram.  Eles receberam ajuda para encontrar trabalho, foram ensinados a orar a Deus e sobre o Livro de Mórmon.  A liderança da Igreja ajudou a dar entrada nos documentos.  Eles foram recebidos em casa e tratados como amigos.  Oramos, jejuamos por eles.  Não desistimos deles.  E a sua vida está mudando, pouco a pouco.  No próximo sábado seus filhos adolescentes serão batizados.  Eles estão cheios de esperança no futuro e muita gratidão.  Uma coisa linda de se ver!

Tenho muita gratidão por tudo o que tenho aprendido com essa família escolhida por Deus para me ensinar sobre como viver a vida.  Aprendi a prestar mais atenção nas oportunidades de fazer o bem.  Me dói só de pensar quanta coisa boa que eu deixei de viver porque estava apressada e simplesmente não vi a dor que eu poderia ter aliviado.  Ainda assim, me sinto imensamente grata por ter amigos maravilhosos que me mostram o que eu não consigo ver sozinha.  Sou feliz por fazer parte de uma comunidade de seguidores de Jesus Cristo que prontamente compartilharam de seus recursos para ajudar uma família carente e por líderes maravilhosos que deram o seu tempo para realizar esse grande trabalho.

Tudo isso me traz à mente as palavras de Nosso Senhor.
 34 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por aherança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
 35 Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
 36 Estava nu, e vestistes-me; aadoeci, e bvisitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.
 37 Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
 38 E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
 39 E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
 40 E respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o afizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Mateus 25:34-40

O autor preferiu não se identificar.  Essa história aconteceu no Rio de Janeiro, Brasil.


2 comentários:

  1. Como sou grato por este relato, hoje ensinei aos membros novos estes princípios, mas agora, em meio às minhas lágrimas, percebo que preciso corrigir a minha síndrome do coelho branco. Preciso viver como há 23 anos atrás, quando era missionário no meu querido Rio de Janeiro. Obrigado de coração. Sinto minha fé revigorada

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    1. Obrigada, Leo, por seu comentário! É bem difícil continuar toda semana pedindo relatos às pessoas e separando tempo para divulgar o blog. Mas saber que fez a diferença na sua vida já valeu todo o trabalho. Que Deus te revigore cada dia mais!

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