quarta-feira, 7 de junho de 2017

A Doçura da Maternidade

É, desde dezembro que não ando por aqui.  Em minha defesa posso alegar que criar duas pequeninas e carregar o terceiro não tem sido tarefa fácil.  E enquanto eu estudava as escrituras pela manhã, me veio na lembrança uma aventura de um dia desses.

Sabe aqueles que dias em que tudo sai da ordem?  E para coroar o dia, uma ida ao mercado logo depois da escola com as duas pequeninas.  Foi mal eu colocar o primeiro ítem na esteira de compra que a menorzinha anunciou que queria usar o banheiro.  Mas como ela tinha ido antes de sair da escola, calculei que daria para ela segurar até que eu pagasse as compras.  Terminado isso, deixei as coisas na administração do mercado e fui com elas até o banheiro.

Acontece que foi demais para minha baixinha.  Pois é, ela tinha feito o número 1 e agora era o tal do número 2.  E não resistiu chegar até o vaso e, por minha única e exclusiva habilidade ninja, não foi tudo no meu pé.  Agora eu tinha que ajudá-la a tirar a roupa suja, terminar o que tinha que terminar, limpar o que caiu e impedir que a mais velha causasse mais transtorno.  Tudo isso com um barrigão de 7 meses.  

Mas é claro que a mais velha estava em polvorosa com o acontecido.  Não parava um segundo!  Só faltava lamber o chão do banheiro e eu não sabia mais o que fazer senão pedir a Deus muita paciência.  Afinal de contas, eu estava segurando a mais nova tendo que passar a maior calma do mundo para que ela não travasse e o meu martírio de segurá-la não durasse mais do que precisava. As pessoas entravam e saíam e olhavam aquela cena ressabiadas, mas como fechar a porta do cubículo em uma situação dessas?   Com a barriga eu nem caberia mais lá dentro e qualquer perda no equilíbrio eu pisaria diretamente no acidente que ainda aguardava a minha solução.  Eu suava, meu braço doía, a barriga doía e eu tentando lembrar tudo o que eu já li sobre meditação na vida.  

Foi aí que entrou uma mãe e uma moça de mais ou menos 18 anos.  Com um tom mais saudoso do que eu conseguiria compreender, sinalizou para a filha: "Nossa, como isso me lembra o tempo em que vocês eram pequenos!  Que saudade!  Ô época boa que não volta mais!"

Como eu já estava no meu modo meditativo, deixei passar o primeiro pensamento como uma nuvem e não mandei um "como assim você não está percebendo que eu estou no sufoco?" Respirei fundo e olhei nos olhinhos na minha pequena e aceitei aquilo como parte de criar aquela criatura tão amada e querida.  E compreendi a sabedoria daquela mãe que sabia que essa suadeira fazia parte integrante e indissociável de uma das melhores coisas que podem acontecer a uma mulher.

Fui para a casa da minha mãe e contei a minha saga.  Perguntei para ela se isso era realmente possível, sentir saudades desses apuros que elevam a nossa frequência cardíaca.  E com um suspiro fundo ela confirmou que sim, mas que eu só vou entender quando elas estiverem crescidas.  Por isso não pude deixar de lembrar desse evento enquanto lia as palavras: 


"Ai dos que ao mal achamam bem, e ao bem, mal; que fazem da bescuridão luz, e da luz, escuridão; e fazem do amargo doce, e do doce, amargo!"
 2 Néfi 15:20, Isaías 5:20

Porque vivemos em um mundo que faz isso o tempo todo.  Com tudo o de bom que nós fazemos, passam por nós nos momentos tenebrosos que todo trabalho tem e nos apontam dedos.  Mas pior do que uma sociedade que faz isso o tempo todo, é a gente comprar essa ideia.  Acreditar que as coisas boas da nossa vida na verdade são ruins porque exigem desafios e dificuldades.  E realmente, ai de nós, porque se acreditamos que essas adversidades comuns são tão ou mais relevantes do que o trabalho que estamos desenvolvendo, nossos sonhos serão amargos e a nossa vida será escura e sem propósito.  Pois qualquer bem que valha a pena (seja ele criar filhos, cultivar um casamento feliz, desenvolver um talento ou carreira, ajudar o próximo, desenvolver um relacionamento com Deus, etc.), vai ter desses momentos que testam a nossa resistência.  Como separar uma coisa da outra?

Espero que nós todos consigamos olhar nossa vida como um todo e não como situações desconexas.  Quando esquecemos o que estamos desejando colher, podemos deixar que as ervas daninhas sufoquem aquilo que plantamos.  Porque o doce que abandonarmos pelo caminho certamente será muito amargo no outono da vida.  Façamos que cada dia realmente contribua para nossa felicidade.