segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Sorvete para alma

Estou há 1 mês no Brasil.  Em dezembro de 2018 realizei o sonho de ser tia com um lindo menino chamado Davi.  Como a vida é cheia dessas ironias, essa alegria veio justamente quando eu não poderia aproveitá-la por estar em outro país.  Então agora em dezembro tive enfim a oportunidade de vir para o aniversário de um ano dele e de quebra pude passar o natal e o ano novo com meus pais.

Não foi uma viagem fácil, mas para viajar sozinha com 3 pequenos você tem que criar expectativas bem mais modestas do que as dos outros viajantes pelo mundo.  Na vinda, por exemplo, minhas ambições eram que ninguém se machucasse, se perdesse no aeroporto, sentisse dor de ouvido ou vomitasse em um vôo de 10 horas.  Felizmente apenas o último desses desejos não foi atendido, mas o acontecimento não chegou a ser uma tragédia.  Eu nem sabia o quanto o meu psicológico já tinha se adaptado a esse tipo de coisa nessa década de maternidade.

Em solo firme, eu também simplifiquei bastante.  Isso me custou, certamente, a oportunidade de rever os amigos que eu gostaria de rever.  Mas uma saída nas ruas cariocas e eu rapidamente me lembrei porque a maioria das mães tem até 2 filhos por aqui: cada saída na rua é uma aventura perigosa. Calçadas em pedra portuguesa que fazem as crianças tropeçarem, trânsito enlouquecido, o cachorro que alguém soltou da coleira, as pessoas aleatórias que vem falar com seus filhos (todos falam com as crianças aqui), além do alerta constante para evitar criminosos...  Administrar tudo isso quando você não consegue nem dar mãos a todas as crianças requer muita prática e eu realmente estava enferrujada.  Fiquei em casa a maior parte do tempo.  Ainda bem que aqui "em casa" inclui piscina e praia também.

Ah, e fui a Igreja!  Desde que me tornei adulta fiz um compromisso comigo mesma de que onde quer eu estivesse eu frequentaria a Igreja aos domingos; eu acredito que os anjos disseram amém quando me ouviram pois tenho conseguido cumprir essa meta desde os 18 anos.  No meu primeiro domingo, fui na ala que frequentava antes me mudar e revi muitas pessoas, o que foi muito legal.  Mas claro, muitas eu não conhecia.  Uma delas estava no canto, com uma cara triste, e eu fui até ela me apresentar.  Ela se chamava Gabriela e estava visitando a Igreja havia algumas semanas.  Me contou que estava muito desanimada de vir e que estava a ponto de desistir.  Eu falei pra ela que tudo na vida que era bom tinha uma dificuldade no início, mas que se ela persistisse teria muita alegria.  Contei da paz e das bênçãos de separar um tempo para o Senhor todas as semanas.

Ontem, praticamente um mês depois, estive na mesma ala e encontrei a Gabriela de novo.  Estava sorridente e feliz e tinha uma amiga que ela trouxera pra conhecer a Igreja.  Fui invadida por um sentimento maravilhoso de gratidão; ainda é difícil de segurar as lágrimas quando penso nessa singela alegria de ver o sorriso de quem antes estava triste.  Realmente a vida tem muitas delícias: sorrisos de criança, chocolate, abraço de quem se ama, presente esperado, uma lista interminável.  Mas ver a mão do Senhor na vida de seus filhos, é como um sorvete que satisfaz. 


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