segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Meta: Escrever!

Eu bem que tentei fazer o blog decolar novamente mas não consegui.  É tanta coisa para fazer e eu só quero saber de cheirar neném.



Acontece que dia desses estava com minha filha na natação e eu percebi que eu preciso escrever.  Ali, observando a pequena se deliciar na água, eu tive a lembrança clara de aprender aquelas mesmas coisas nos braços do meu pai.  De repente a pessoa sentada no banco do lado de fora da piscina não era mais a minha mãe, era eu.  Fui invadida de uma saudade tão grande que eu não pude conter as lágrimas.  Foi então que me lembrei do primeiro parágrafo do Livro de Mórmon:


"Eu, Néfi, tendo nascido de bons pais, recebi, portanto, alguma instrução em todo o conhecimento de meu pai; e tendo passado muitas aflições no decurso de meus dias, fui, não obstante, altamente favorecido pelo Senhor em todos os meus dias; sim, havendo adquirido um grande conhecimento da bondade e dos mistérios de Deus, faço, por isso, um registro de meus feitos durante minha vida."

Me descobri ali na mesma situação que aquele profeta da antiguidade.  Eu tenho bons pais que me ensinaram tudo o que sabiam - e até o que não sabiam.  Para viver a vida que vivo hoje, saber o que eu sei e até mesmo saber aprender o que não sei e me virar sozinha.  E apesar de todos os sufocos que a gente passa, eu me sinto uma pessoa abençoada.  Pois só sabe o que é alívio quem passou a hora do aperto.  E eu já sinto que tenho bastante histórias dessas para contar.

É fato que o blog não é o registro de toda a minha vida.  Porque como neta da Dona Neide, aprendi que a vida deve ser um livro aberto com algumas páginas grampeadas.  Guardo para a minha família a nossa intimidade e aquilo que é de mais especial.  Mas talvez em algum momento futuro alguém possa se inspirar e saber que a vida é boa mesmo quando ela não é fácil, quem sabe eu mesma.  Embora tenha dia em que eu desconfie que a graça esteja justamente na dificuldade, eu raramente me lembro disso nos momentos precários.  

Porque vida boa de verdade não é uma vida de uma cor só.  É até por isso que a chatice a gente chama de monotonia (único tom).  E a minha realidade, aquela sem filtro do instagram, tem as cores que eu escolhi e algumas que eu preferia evitar.  Acima de tudo, apesar dos meus erros e defeitos, sinto que Deus me ama e está presente nos meus dias.  E é por isso que eu sou feliz.



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Casa Nova, Vida Nova

Pois é, nem todo mundo está sabendo ainda, mas nos mudamos para os EUA.  O meu marido veio fazer um MBA na Brigham Young University e nesse tempo estaremos aqui em Provo, no estado de Utah.  Quem me conhece sabe que eu amo o Rio de Janeiro, um amor realmente verdadeiro. Conheço bem os problemas da cidade, mas o meu coração bate forte só de pensar na minha terrinha.  Para mim o maior encanto do Rio de Janeiro são as pessoas -- em primeiro lugar, minha família, mas também a capacidade de agregar gente boa e alegre que aquele lugar tem, sejam eles cariocas da gema ou não.

Mas a adaptação a Provo tem sido muito mais tranquila do que eu esperava.  Parece que estou em uma cidade de Lego, pequena mas com tudo o que você esperaria de uma cidade.  E é tudo tão perto que o tempo rende de uma forma que é um bálsamo para quem tem horas de engarrafamento nas costas.  O lugar é limpo e organizado, os serviços são de alta qualidade e as pessoas são muito gentis, mais gentis inclusive do que na vizinha Salt Lake City, onde morei por um ano na adolescência.  Na verdade, aqui eu realmente me sinto em uma cidade mórmon, muito mais do que na nossa Meca tão repleta dos monumentos da história da Igreja.

Vamos fazer um mês por aqui mas ainda estamos turistando.  Essa região tem muito mais coisa para ver do que eu esperava e com um bebê de dois meses os lugares e a agenda tem que ser muito bem pensados. Esses passeios têm fortalecido a minha admiração pelo povo de fé que estabeleceu tudo isso em meio ao deserto em sua pobreza.  Um passeio especial foi levar as crianças nos jardins do Provo City Temple, localizado no centro da cidade.

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Parece um castelo.  Os jardins impecáveis com cheirosas flores de cores vibrantes como eu imaginava ao ler os livros de história da minha infância.  Existe uma majestade naquele edifício que não pode ser percebida em fotos, embora ele seja fotogênico.  Ele é, acima de tudo, um lugar inspirador representando um passado que para mim é uma fonte de esperança muito necessária nos dias de hoje.

O prédio é antigo e faz parte da história da cidade.  Era um tabernáculo da minha Igreja, usado para grandes reuniões e para eventos civis como formaturas e outras solenidades.  Até que um dia ele passou por um incêndio e praticamente foi abaixo, só restando as paredes externas.  E passou algum tempo assim até que a Igreja anunciou que o transformaria em um templo.  Mas esse ainda não foi o final feliz: as paredes sobreviventes tiveram que passar por uma obra gigantesca sem desabar.  Com muito cuidado o trabalho de restauração aconteceu, criando inclusive um caso de estudo de engenharia que ficou famoso pelo mundo afora.  Até as fundações foram novas e o prédio por muito tempo era como uma casquinha de sorvete, apoiado em uma estrutura de metal que de longe fazia parecer que flutuava.

Fico pensando como muitas vidas são assim.  Primeiro vem a ruína, deixando só o suficiente para existir.  E depois, ao receber a esperança que vem de Deus de uma nova perspectiva, ao invés de paz recebem anos de vazio, trabalho árduo e uma construção que desafia a mente e a criatividade humana.  Me lembrei de quando Ele disse:
"Eis que  te purifiquei, porém não como a prata; escolhi-te na afornalha da aflição."  (Isaías 48:10)
Coloco abaixo o link para um vídeo com um pouco dessa história de aquecer o coração.  Precisamos acreditar que depois do fogo, do vazio, das marteladas e, claro, de muito trabalho, o resultado é um lugar de paz e beleza capaz de inspirar e transformar as vidas que o contemplarem.

https://www.youtube.com/watch?v=zyBRKZBPCiI


sábado, 12 de agosto de 2017

Envolva-se Em Grandeza

Essa semana ao orar, recebi a ordem "compre o livro".  Imediatamente soube de que livro se tratava: "Way to be" do Presidente Gordon B Hinckley.  Eu estou trabalhando há alguns meses nas virtudes ensinadas no livro.

Pesquisei e a minha opção mais barata era a Amazon, por $11.  Mas ao decidir comprar, senti que encontraria o livro na Deseret Industries, loja de usados que arrecada fundos para ajuda humanitária.  Ao chegar lá, no entanto, descobri que os livros não eram bem catalogados e não saberia como encontrar o que procurava. Mal pensei isso e, como um peixinho, esqueci o que estava fazendo e me distrai com os livros diante de mim.  Fui passando os olhos naqueles muitos títulos e me impressionando com tanta coisa boa que a gente não acha mais nas livrarias.  Tantos que eu sempre quis ler e nunca achei ou achava na hora que não tinha dinheiro.  

Encontrei algumas biografias de profetas e outros grandes homens.  Peguei animada para folhear e quis comprar... E em meio a esse pensamento, meus olhos bateram no livro que eu procurava.  Ele estava novo, em perfeito estado e custava apenas .75.  Isso mesmo, não custava nem $1.  Olhei mais um pouco e encontrei outra cópia em pior estado por $1.  Animada, peguei o primeiro que vi, mas já estava de mãos cheias.  E pensei comigo mesmo que eu havia esquecido o meu propósito de estar ali, pois estava com todos aqueles livros que no final me custariam os mesmos $11 que deixei de gastar na Amazon.  E eu, dura que estou, não queria gastar dinheiro.

Levantei os olhos e um livro brilhou para mim. Foi como se o título daquele livro fosse a voz de Deus falando comigo.  Dizia "Surround Yourself  With Greatness" e por isso dei esse nome a minha postagem.  Ali eu entendi que o Senhor tinha me trazido ali não para economizar, mas para aprender com todos aqueles homens o que Ele quer me ensinar.  Cheguei em casa com vontade de ler, mas 3 filhos para cuidar.  E hoje ao acordar, com as maiores dormindo, comecei a ler 2 e folheei os outros.

Qual não foi minha surpresa ao descobrir que uma das biografias estava assinada pelo próprio objeto dela?      Ezra Taft Benson, fazendeiro, ministro do governo americano e apóstolo do Senhor Jesus Cristo.  Fiquei tão grata por tudo o que vivi nessa história e percebi que tive uma experiência que me ensinou mais sobre a forma de agir do Espírito Santo de Deus.    Me senti como Jacó, irmão de Néfi, que disse:


"Pois em virtude de nossa fé e grande ansiedade, verdadeiramente nos haviam sido reveladas as coisas que aaconteceriam a nosso povo.E tivemos também muitas revelações e o espírito de muita profecia; sabíamos, portanto, de aCristo e de seu reino que haveria de vir." Jacó 1:2-6
https://www.lds.org/scriptures/bofm/jacob/1?lang=por

Estou animada para descobrir o que vou encontrar em todas essas páginas. 




quarta-feira, 7 de junho de 2017

A Doçura da Maternidade

É, desde dezembro que não ando por aqui.  Em minha defesa posso alegar que criar duas pequeninas e carregar o terceiro não tem sido tarefa fácil.  E enquanto eu estudava as escrituras pela manhã, me veio na lembrança uma aventura de um dia desses.

Sabe aqueles que dias em que tudo sai da ordem?  E para coroar o dia, uma ida ao mercado logo depois da escola com as duas pequeninas.  Foi mal eu colocar o primeiro ítem na esteira de compra que a menorzinha anunciou que queria usar o banheiro.  Mas como ela tinha ido antes de sair da escola, calculei que daria para ela segurar até que eu pagasse as compras.  Terminado isso, deixei as coisas na administração do mercado e fui com elas até o banheiro.

Acontece que foi demais para minha baixinha.  Pois é, ela tinha feito o número 1 e agora era o tal do número 2.  E não resistiu chegar até o vaso e, por minha única e exclusiva habilidade ninja, não foi tudo no meu pé.  Agora eu tinha que ajudá-la a tirar a roupa suja, terminar o que tinha que terminar, limpar o que caiu e impedir que a mais velha causasse mais transtorno.  Tudo isso com um barrigão de 7 meses.  

Mas é claro que a mais velha estava em polvorosa com o acontecido.  Não parava um segundo!  Só faltava lamber o chão do banheiro e eu não sabia mais o que fazer senão pedir a Deus muita paciência.  Afinal de contas, eu estava segurando a mais nova tendo que passar a maior calma do mundo para que ela não travasse e o meu martírio de segurá-la não durasse mais do que precisava. As pessoas entravam e saíam e olhavam aquela cena ressabiadas, mas como fechar a porta do cubículo em uma situação dessas?   Com a barriga eu nem caberia mais lá dentro e qualquer perda no equilíbrio eu pisaria diretamente no acidente que ainda aguardava a minha solução.  Eu suava, meu braço doía, a barriga doía e eu tentando lembrar tudo o que eu já li sobre meditação na vida.  

Foi aí que entrou uma mãe e uma moça de mais ou menos 18 anos.  Com um tom mais saudoso do que eu conseguiria compreender, sinalizou para a filha: "Nossa, como isso me lembra o tempo em que vocês eram pequenos!  Que saudade!  Ô época boa que não volta mais!"

Como eu já estava no meu modo meditativo, deixei passar o primeiro pensamento como uma nuvem e não mandei um "como assim você não está percebendo que eu estou no sufoco?" Respirei fundo e olhei nos olhinhos na minha pequena e aceitei aquilo como parte de criar aquela criatura tão amada e querida.  E compreendi a sabedoria daquela mãe que sabia que essa suadeira fazia parte integrante e indissociável de uma das melhores coisas que podem acontecer a uma mulher.

Fui para a casa da minha mãe e contei a minha saga.  Perguntei para ela se isso era realmente possível, sentir saudades desses apuros que elevam a nossa frequência cardíaca.  E com um suspiro fundo ela confirmou que sim, mas que eu só vou entender quando elas estiverem crescidas.  Por isso não pude deixar de lembrar desse evento enquanto lia as palavras: 


"Ai dos que ao mal achamam bem, e ao bem, mal; que fazem da bescuridão luz, e da luz, escuridão; e fazem do amargo doce, e do doce, amargo!"
 2 Néfi 15:20, Isaías 5:20

Porque vivemos em um mundo que faz isso o tempo todo.  Com tudo o de bom que nós fazemos, passam por nós nos momentos tenebrosos que todo trabalho tem e nos apontam dedos.  Mas pior do que uma sociedade que faz isso o tempo todo, é a gente comprar essa ideia.  Acreditar que as coisas boas da nossa vida na verdade são ruins porque exigem desafios e dificuldades.  E realmente, ai de nós, porque se acreditamos que essas adversidades comuns são tão ou mais relevantes do que o trabalho que estamos desenvolvendo, nossos sonhos serão amargos e a nossa vida será escura e sem propósito.  Pois qualquer bem que valha a pena (seja ele criar filhos, cultivar um casamento feliz, desenvolver um talento ou carreira, ajudar o próximo, desenvolver um relacionamento com Deus, etc.), vai ter desses momentos que testam a nossa resistência.  Como separar uma coisa da outra?

Espero que nós todos consigamos olhar nossa vida como um todo e não como situações desconexas.  Quando esquecemos o que estamos desejando colher, podemos deixar que as ervas daninhas sufoquem aquilo que plantamos.  Porque o doce que abandonarmos pelo caminho certamente será muito amargo no outono da vida.  Façamos que cada dia realmente contribua para nossa felicidade.