segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Alvin e os Teimosos

Meu sonho de consumo nos últimos tempos tem sido dormir.  De vez em quando algo mágico acontece e eu consigo dormir um pouco mais.  É incrível perceber nitidamente minha memória e meu foco melhorando, minha energia aumentando e me sinto até mais inteligente.  Infelizmente, este não é um desses momentos, mas eu tenho descoberto muita coisa sobre mim e sobre os outros através do meu cansaço.  Às vezes a gente idealiza tanta coisa e o esgotamento nos obriga a simplificar o máximo possível por uma questão de sobrevivência.  

Tão importante quanto essa descoberta tem sido constatar que não se pode abrir mão de certas coisas e o meu desafio pessoal tem sido definir que coisas são essas.  Porque eu me descubro frequentemente priorizando errado e sentindo na pele os efeitos disso.  Hoje de manhã, por exemplo, eu já estava muito aborrecida com as atitudes da minha filha mais velha.  Ela tem quase 6 anos e sempre foi uma menina boa de negociar.  Aos 3 anos ela deixou todas as vendedoras de uma loja de brinquedos do Barra Shopping perplexas com a sua maturidade: ela pediu um brinquedo e eu expliquei que ali estava muito caro e que poderíamos procurar onde compraríamos aquela boneca no menor preço.  As vendedoras esperavam pelo menos alguma manha ou protesto e vieram todas ver a criança que tão pequena entendia um argumento complexo assim.

Por isso eu não conseguia aceitar que nas últimas semanas ela estivesse tão do contra e tão rebelde.  Quando chamei para entrar no banho fez uma cena e eu tive que gastar minha autoridade no melhor estilo "não perguntei o que você quer fazer, estou mandando".  E foi justo aí que me veio alguma luz para entender o que estava acontecendo com a minha pequena.  Falei para ela que estava agindo como o Alvin, do filme dos esquilos, só que eu não sou Dave (personagem que adotou os esquilos) e ela ficaria muito seriamente de castigo.  




Pela primeira vez nos últimos dias ela deu uma amolecida diante de um argumento meu.  Percebendo que a porta do diálogo tinha sido aberta, resolvi ir mais a fundo.  Perguntei se ela estava imitando o jeito do esquilo Alvin e ela pensou um pouco e disse que sim.  Expliquei pra ela como as atitudes do Alvin magoavam e complicavam a vida dos seus irmãos esquilos e do Dave.  Ela pareceu entender e brincou feliz no banho.  

Na hora de sair, não me obedeceu e queria ficar mais tempo brincando na água. Nessa hora eu relembrei que ela havia me dito que não gostava do banho antes de entrar na água.  Ao ver que ela me ignorava novamente, falei de maneira séria que se ela não queria sair do chuveiro era porque ela estava mentindo quando disse que não gostava de banho.  Ela parou, saiu e me pediu desculpas por ter mentido.

Essa conversa me fez perceber o que o meu cansaço estava me fazendo ceder em algo importante.  Estava aceitando que minha filha assistisse desenhos sem o meu acompanhamento ou aprovação em momentos em que precisava cuidar da casa.  Eu anestesiava minha consciência por não permitir que ela visse por mais tempo do que o horário que eu estabeleci, mas a verdade é que a influência desses personagens estava começando a nos impactar todos os dias e eu nem estava atenta para isso!  De repente as palavras de Cristo ganharam uma nova perspectiva: 

"Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa." Mateus 24:43

Não acredito que eu possa manter a minha filha em uma redoma protegida de todos os maus exemplos existentes.  Na verdade, nem sei se o melhor é proibir o desenho que estava causando o problema.  Mas percebi que atenção nesse ponto não é negociável, ao menos não suas consequências. 



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