sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Uma Fé de Araque

Um dia desses estava em uma festinha e me identifiquei como membro da Igreja para os pais de uma amiguinha da minha filha.  Eles se surpreenderam e me perguntaram prontamente se eu era mórmon mesmo ou "se era de araque".  Confusa pelo comentário, perguntei como era ser um mórmon de araque.  Eles me contaram então de um membro da Igreja que eles conhecem que espera os outros saírem de perto para tomar uma caipirinha.

Minha primeira reação foi a de sentir vergonha.  Certamente foi péssima a mensagem que esse casal recebeu com essa atitude: essa religião é tão estranha que nem mesmo os praticantes acreditam mesmo.  Mas o tempo passou e quanto mais eu reflito sobre esse evento, mais eu sinto por esse irmão.



Pode ser que se trate de uma pessoa que se sentia extremamente sozinha e sem amigos e que encontrou na Igreja o apoio e amizade que precisava.  Embora a Igreja não seja um clube, ela com certeza ganha da maioria deles nos quesitos companheirismo e amor. Onde quer que eu esteja no mundo sou bem recebida pelos membros da Igreja.  Já fui convidada para almoçar, levada pra passear e até dormi na casa de pessoas que eu nunca tinha visto antes, simplesmente porque sabem que sou sua irmã em Cristo.  O carinho e amor que recebo lá sempre foram importantes, mas na minha adolescência, quando eu sofria mudando de um lado para o outro do oceano, foi fundamental sentir parte de algo maior e tão acolhedor.

Pode ser que esse irmão tenha sido criado na Igreja e que esteja tão enraizado estar entre nós que sinta como uma segunda família.  Ele ama tudo o que a Igreja proporciona, mas não acredita no que é ensinado e não sente aquilo que vê as pessoas ao seu redor tanto falar.  Assim, mesmo que seu estilo de vida não se encaixe mais em nossas práticas, ele prefere manter seu círculo de amizades, assim como nós cultivamos nossos laços familiares independente de qualquer coisa.  E pode ser que esse cuidado de não ser visto fazendo algo em que não acreditamos seja um cuidado para não preocupar e ofender aqueles que ele tanto estima.

Pode ser que ele realmente acredite na Igreja mas que tenha dificuldade com esse mandamento.  Eu sei bem o que é isso... Tem tantas coisas que eu sei ser o certo mas que eu não consigo fazer o tempo todo.  E essa sensação às vezes faz a gente querer se esconder e fazer errado sem ser incomodado por quem não consegue entender nossa dificuldade.

Pode ser ainda que ele não acredite em nada e esteja mesmo tentando vender uma imagem.  Talvez a situação dele como membro da Igreja e o convívio com os irmãos possa lhe trazer vantagens sociais na empresa em que trabalha e ele queira manter as aparências.

Seja qual for o caso, fico feliz de saber que ele está entre nós.  Não sei o nome nem qualquer outra referência dessa pessoa, mas fico pensando que em qualquer caso é melhor permanecer com gente que nos eleva.  Às vezes as forças nos faltam para sobrepujar nossa incredulidade, nossa quedinha por aquele mau hábito.  Mas se escolhemos estar entre pessoas que amam e servem a Deus, em algum momento esse amor e essa chama há de se acender em nós.

Mais importante que tudo é estar em lugares santos, onde os milagres acontecem.  Gosto de pensar na história do homem enfermo relatada no evangelho de João:

Depois disto havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.
Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento da água.
Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?
O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava. E aquele dia era sábado.
João 5:1-9


Após 38 anos doente e já sem forças, Cristo veio e deu àquele homem a cura que ele precisava.  Mas esse milagre só ocorreu porque ele estava no lugar certo.  Acredito que a toda mulher, homem, sendo jovem ou velho, em algum momento vai ter um encontro com o divino se simplesmente esperar o milagre junto ao tanque onde os anjos curam com o balançar da água.

Não quero dizer que não seja errado estar entre nós e agir de forma hipócrita.  Cristo repreendeu duramente aqueles que tentam parecer o que não são.  Mas digo que não é nosso o saber do que está dentro do coração daquele que age dissonante daquilo que professa.  E que mesmo que esteja tudo errado lá dentro, pode ser que no futuro seja tudo diferente.  Como sempre, nosso papel é estender nossa mão e nosso amor. 


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