segunda-feira, 23 de julho de 2018

O Bom é difícil

Há exatamente um ano atrás, estava eu na sala do nosso apartamento do Rio de Janeiro, malas prontas e toda uma vida para resolver.  Eu tinha vendido um bocado de coisas, mas decidir o que fazer com o que não era para venda, doação, ou lixo é que era o problema.  Porque na verdade não sabíamos o que continuamos sem saber, em outras palavras, não tínhamos ideia do que poderia ser necessário no futuro.  Porque pior do que mudar de vez é mudar para depois voltar, logisticamente falando.  O definitivo pode ser mais doloroso, mas é definitivamente mais simples.

Na época alguns amigos e familiares foram uma ajuda fundamental e nos diziam palavras animadoras.  Havia uma esperança dentro de mim de que as coisas poderiam se tornar mais fáceis.  Afinal, eu estava ali com um bebê recém nascido, duas meninas pequenas e mais coisas para resolver do que o meu tempo ou força permitiriam. 

Tolice.

Doze meses depois, as coisas efetivamente mudaram muito.  Aquelas meninas hoje estão adaptadas, são fluentes em um outro idioma e o bebê que só mamava agora come e vai para onde quer.  O marido que não tinha ideia do que o mestrado traria para sua carreira, agora está quase terminando um estágio que ele adora.  Aqueles problemas que nos afligiam em sua maioria se resolveram.  Outros apareceram.  Mas a minha esperança nunca se concretizou, e de fato, deixou de ser mesmo uma esperança. 

Me lembro de aos 20 anos ler o livro de Eclesiastes e imaginar um velho de barbas brancas dizer as palavras:

"Todas as coisas cansam tanto, que ninguém o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir." (Eclesiastes 1:8)

Que surpresa que uma década depois seria exatamente assim que me sentiria, antes mesmo de ter (muitos) cabelos brancos.  Porque a cada dia que passa, me parece que o denominador comum entre o sortudo e o azarado é a exaustão.  Todo mundo sabe que os infortúnios da vida exigem o esforço da superação mas ninguém nos conta que as oportunidades e o sucesso nos trazem muito trabalho.  E aí a gente vê aquele artista famoso e transtornado ou o empresário rico e desesperado e aquilo nos parece tão sem sentido. 

Amanhã comemora-se em Utah o dia dos pioneiros, que é o aniversário da chegada dos imigrantes mórmons na cidade de Salt Lake City.  Penso em como é chegar de viagem e encontrar um deserto para cultivar e uma casa para construir onde mal tinha árvore para dar madeira.   Ver o que existe hoje por aquelas bandas é impressionante todas as vezes que nos lembramos da pobreza e precariedade daquelas pessoas.  Ver o que elas conseguiram construir me dá mais esperança naquilo que eu estou construindo, com tantos recursos e oportunidades.  Pois como explicou o próprio Salvador Jesus Cristo:


Qual é, pois, o amordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração? Bem-aventurado aquele servo, o qual o senhor, quando vier, achar afazendo assim. Em verdade vos digo que o aporá sobr"btodos os seus bens.
Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se, Virá o senhor daquele servo no dia em que não o espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e porá a sua parte com os infiéis.   E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não sepreparou, anem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;Mas o que anão a soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E a qualquer que bmuito for dado, muito se lhe cexigirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá." 
Lucas 12:42-48
Sou grata por minhas montanhas e não as trocaria por nenhum vale.  Mas hoje reconheço a luta como parte inseparável da vida e não me culpo mais por minhas complicações.  E isso é, da mais inesperada das formas, libertador.


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